TUDO EM ALTO VOLUME
Em pouco tempo fora das telas, temos a sensação de que perdemos muita coisa. Uma enorme quantidade de conteúdo e barulho sendo consumido de uma forma que, quando paramos para olhar atentamente, já foi. E já se transformou em outra coisa.
Afinal, são tempos em que tudo pode viralizar a qualquer custo. Definitivamente tudo.
para ouvir: as músicas mais virais do tiktok dos últimos tempos
Mas não foi sempre assim. Pouco tempo atrás, o Facebook era o spotlight das redes enquanto modo de estreitar laços com amigos ou relações profissionais. Posteriormente, o Instagram chega para trazer a novidade imagética como prioridade na comunicação. E, agora, as plataformas concluíram que quanto
mais conteúdo, maior o potencial de lucro.
A questão é que, pela forma como estamos recebendo informação, temos como consequência um derretimento expressado pelo cansaço. Estar online e consumir todo tipo de conteúdo funciona como um caça-níquel: quem vai falar ou fazer o que primeiro?
Enquanto pilares da obrigatoriedade em viralizar, o ritmo na velocidade da luz da produção de conteúdo (em que você sempre precisa fazer mais e mais) e a lógica de retroalimentação da validação social (um ciclo regido pela comparação) acabam por gerar um impacto emocional na nossa subjetividade.
MIGALHAS DE SIMBOLIZAÇÃO
Na linguagem do viral, como discorre a Float, o que se torna latente não é informação, mas sim as reações ativadas diante daquele conteúdo. E não necessariamente reações positivas. O que importa é ser consumido pelo viral que, não raro, é um ciclo de epifania. As sensações fortes, que são originadas pelos vários estímulos e artifícios linguísticos como memes e tudo aquilo que transita muito bem na deep web, possuem um apelo maior por envolver o sistema límbico. As estruturas desse sistema se articulam compondo a percepção afetiva dos fenômenos e centralizando a Economia da Atenção. Oscilando rapidamente entre atenção e tensão, a epifania parece nunca ter fim - estamos sempre à postos para mais uma nova “enxurrada” de representações, gifs, personas e memes.
para aprofundar: confira o podcast completo da Float
E a verdade é que, sim, todos nós queremos ser vistos (ou pelo menos os que escapam ao mood low profile). Mas a qual preço?
Viralizar por um ou dois dias é realmente a tradução do sucesso? Qual o valor implicado das relações humanas enquanto performance?
Na gramática das redes sociais, viralizar é sinal que deu certo. E se não pipocou likes e chuvas de comentários, a derrota social nos convoca a repensar toda a arquitetura de uma mensagem sólida que, no fundo, não tinha nada de errado. Só não estava preparada para fazer tanto barulho junto com as muitas outras em ação.
A (SUPOSTA) DESINTOXICAÇÃO
Por aqui, acreditamos que não vale tudo pelo super engajamento, sendo totalmente possível se relacionar com esse mundo de forma saudável. É pertinente abrir conversas e participar de pautas coletivas para construirmos comunidades sólidas e expressivas. Ou melhor, ter algo a dizer demonstra o quanto estamos atentos dentro do universo da cultura digital cada vez mais descentralizado.
É sobre enxergar o que está acontecendo ao nosso redor, seja para inspirar ou odiar. Mas, a partir do momento em que provocar emoções intensas fica em primeiro lugar, o nosso tato para o sensível acaba se reduzindo. Afinal, com as fronteiras entre tensão e prazer se tornando menores, e os conteúdos se tornando virais da noite para o dia, sentimos dificuldade em desenvolver a sensibilidade para aquilo que exige uma maior atenção e um contexto a ser estudado.
para ler: o livro The Tipping Point aprofunda alguns desses pontos
Sem receita de bolo ou plano tático em nossas mãos, essa busca pelo viral transforma-se em um ato quase perigoso nas relações de produção de conteúdo. O pesquisador de mídias sociais Danah Boyd criou o termo “colapso do contexto” para trazer à luz o que acontece quando existem informações circulando sem a contextualização original para diferentes públicos. Estamos perdendo de vista que, sim, é totalmente normal que muitas big ideas não têm como objetivo principal se tornarem virais.
Nem todos os hits ou trends podem abranger os territórios de comunicação da sua marca, mas você pode reparar em um ou dois acontecimentos (alinhados à estratégia de branding e conteúdo do seu negócio) para gerar pauta que escape da sua bolha com relevância e autenticidade.
Laís Maciel (@lmaciel_)
Analista de Conteúdo na OOO
OOO3 COISAS QUE NÃO VIRALIZARAM E SÃO OOO 1OOO/1O:
O Este vídeo da reunion de Zoey 101, que a gente não sabe como ninguém está falando disso.
O Este desfile de 2020 da Minju Kim para o Next In Fashion, que relembramos essa semana e estamos obcecados.
O Este tiktok, que estamos assistindo em looping e mesmo assim não passa dos 100 comentários.
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