depois de preencher todo o checklist da adolescência, de onde vem tanta incerteza, Gen Z?
Em meio a uma nova geração redefinindo as normas de trabalho, será finalmente a hora de riscar as fórmulas de sucesso?
Parecia que tudo ficaria perfeito quando chegássemos na casa dos vinte anos.
Mas é exatamente nos momentos mais aleatórios do dia em que sem querer me encontro presa em "pensamentos intrusos": será que compro um oat vanilla latte antes de ir para a faculdade ou será que deveria estar guardando esse dinheiro para comprar uma casa no futuro?
Ou talvez colocar em um fundo de investimentos. Mas o que realmente importa… leite de aveia ou de amêndoa? Não sei o que é mais saudável. Talvez eu volte a ser vegetariana. Será que isso afeta na saúde dos meus filhos que ainda estão longe de nascerem? Qual momento da carreira será que é ideal para pensar nisso? É que eu nem sei se quero ter filhos.
Chega um ponto na vida onde as ansiedades sobre "crescer" finalmente começam a se tornar parte da realidade. É o que chamam de crise dos 20 e a questão que perdura e martela o tempo todo: será que estou no caminho certo?
Em meio ao medo de se formar na faculdade, se encontram todos os questionamentos sobre o rumo que a nossa vida está tomando — que, pela primeira vez, está 100% sob o nosso controle. Existia quase uma fórmula, uma receita de como tocar as suas decisões de vida: se formar na escola, passar no vestibular, fazer faculdade e arranjar um bom estágio. Mas e depois?
E depois… também não sei responder. Crescemos ouvindo a tão temida: o que você quer ser quando crescer? E a grande verdade é que muitos de nós não somos capazes de dar uma resposta até hoje. Queremos ser muitas coisas. E muitas vezes, o assombroso pensamento de não ter aquele único e grande sonho de chegar no topo da pirâmide corporativa pode parecer errado e fora do normal. Quando foi que decidimos coletivamente que a meta suprema era se tornar CEO de alguma grande corporação? Eu não recebi esse briefing.
Em uma sociedade altamente burocratizada e tecnológica, é esperado que o curso natural das pessoas se guie em cima de aspirações profissionais. Quando Adorno fala de "mundo administrado" então, entendemos de que maneira estamos cada vez mais submetidos a uma racionalidade instrumental e a forma como esses moldes estão completamente difundidos e penetrantes em todos os aspectos da vida social. Buscamos, então, fórmulas para o sucesso, jeitos de otimizar os processos da vida para alcançar nossos grandes objetivos de carreira, que, na maioria das vezes, estão naquele título pomposo que nos orgulhamos de colocar na bio das nossas redes sociais. Mas será isso mesmo?
Um fato surpreendente — mas nem tanto: menos de 2% da Gen Z tem a ambição de subir na pirâmide corporativa, segundo o livro "The Unspoken Rules", de Gorick Ng. Mas isso não significa que essa geração rejeite posições de liderança, mas traz um indicativo forte de que a métrica do sucesso não se baseia mais apenas no título do cargo, mas sim no propósito e no significado do que estamos fazendo. O que não necessariamente quer dizer que a Gen Z ligue menos para o trabalho, mas sim que ela prioriza cada vez mais o balanço com a vida pessoal e todas as possibilidades que essa vida oferece. Isso é o que o estudo feito pela Cigna retrata: 71% dos funcionários da Gen Z dizem ter aumentado o tempo em que reavaliam as suas prioridades de vida comparado com o que era há dois anos.
Para a Gen Z, não existe dream job, porque não estamos sonhando com trabalho. É sobre repensar a cultura empresarial e até que ponto ela tem predominância sobre nossas próprias decisões e metas. Porque no fim, os grandes sonhos (e big ideas) estão fora do escritório. De viajar o mundo fazendo mochilão em meio a uma call e outra a cumprir a meta de ano novo de olhar para a rotina com mais cuidado e valor.
É o famoso work to live, not live to work.
Mas, apesar de todas as transformações que estamos presenciando no ambiente de trabalho e na cultura corporativa com a entrada da Gen Z no mercado, a pressão de ser bem-sucedido permanece. Temos uma geração que repensa cada vez mais nas suas urgências com relação ao trabalho e à vida pessoal e, ao mesmo tempo, também queremos entender quem somos e onde queremos chegar nesse mundo tão repleto de possibilidades.
para ler sobre se perder: A Field Guide to Getting Lost, de Rebecca Solnit
Pensar em uma estratégia de carreira é muito desafiador quando se vive nessa angústia existencial característica da Gen Z de não sonhar com o trabalho, porque não há um ponto de chegada, um objetivo final (ou melhor, cargo final) já pré-determinado quando finalmente chegamos na idade de começar a assinar o Linkedin Premium. Será que já estou fazendo o suficiente para a minha idade? Ou será que estou atrasada? Como vou conseguir pegar tudo que tenho disponível na minha frente e transformar em algo relevante para mim e para o mundo?
Entre ser uma astronauta da NASA ou uma professora do jardim de infância, todos nós temos muitas vontades. E eventualmente descobrimos que é quase impossível saber com 100% de certeza absoluta o que vamos querer ser quando crescer. Porque tem dias em que acordamos com vontade de correr uma maratona (mesmo não sendo fãs de correr), enquanto em outros, desejamos nos mudar para uma floresta e viver à la Capitão Fantástico.
para ler sobre a busca de um propósito: Play As It Lays, de Joan Didion
O grande ponto (e alívio) é que tudo bem não ter uma meta específica. Tudo bem ainda não saber o que quer ser quando crescer. Porque é isso que te rouba da beleza do processo e da verdadeira experiência que é viver a vida como ela é. Quanto mais nos permitirmos não saber onde exatamente queremos chegar no mundo profissional, mais o nosso campo de visão aumenta. É muito fácil se perder dentro das fórmulas e sistemas literais do sucesso e deixar de enxergar todas as outras possibilidades que se apresentam diariamente para nós. E por mais clichê que isso possa soar, só aprendemos errando. No fim, é sobre ir testando e abraçar a vulnerabilidade da jornada.
OOO 3 CONTEÚDOS QUE EU SEMPRE REVISITO EM MEIO A ESSES PENSAMENTOS INTRUSOS
O Esse artigo sobre nosso tempo que virou o meu mantra.
O Essas 40 pearls of wisdom da Alexa Chung.
O Esse capítulo do livro I Was Told There'd Be Cake de Sloane Crosley.
Desde que você recebeu a nossa última newsletter, nós seguimos online. Esses foram os principais posts da OUT OF OFFICE, caso você tenha perdido:
Edição incrível! Pra quem terminar a leitura se sentindo metade perdido e metade atrasado, esse texto pode ser uma boa próxima leitura: https://teoricamente.substack.com/p/56-eu-sou-jovem 💌