o unfollow nem é um botão tão pesado assim
Será que Pierre Lévy tinha dimensão do peso de um unfollow quando deu nome para a Cibercultura?
O que determina se somos ou não amigos na vida offline? Frequência de contato, intensidade de encontros, simpatia por si só?! Seja qual for o critério, não existem listas consultáveis de quem consideramos amigos e escolhemos acompanhar diariamente.
Eras antes do anúncio de The Tortured Poets Department, a gente já sabia que o relacionamento de Taylor Swift e Joe Alwyn não tinha terminado bem. Como? Por conta de uma roleta de unfollows.
E nenhuma dessas frases faria qualquer sentido há 15 anos.
A adoção de tecnologias como a internet — que a essa altura parecem tão primordiais quanto ter uma geladeira — fez com que os comportamentos e práticas do cotidiano se transformassem.
É o que Pierre Levy previa quando publicou Cibercultura, em 1997.
Quase 30 anos depois, é também o dilema moral que vivemos quando pensamos em deixar de seguir alguém nas redes sociais.
It’s not that deep.
Or is it?!
Em um cenário em que, logo que o despertador toca, há a sensação de estar atrasado para o mundo, talvez seja sim.
Longe de ser o ideal, mas muitos de nós pegamos o celular antes mesmo de pegar na escova de dentes e, de acordo com essa reportagem do Al Jazeera, o usuário médio mundial passa cerca de 2 horas e meia por dia nas redes sociais.
(Minha notificação de tempo de uso do iPhone diz um número ligeiramente muito maior que o do usuário médio mundial…)
Do tempo que passamos nas redes, uma quantidade significativa é gasta vendo anúncios que não escolhemos diretamente. Em 2 minutos, assisti os stories de 5 pessoas e, entre eles, apareceram também 4 anúncios diferentes.
A matemática é simples: passamos muito tempo nas redes sociais e não existe tempo suficiente para consumir todo o conteúdo a que somos expostos. Fazer uma boa curadoria é essencial para que esse tempo online não seja massacrante.
Isso às vezes quer dizer dar um unfollow ou outro. E não é nada pessoal!
Quer dizer… Nem sempre!
Quantas pessoas seguimos por educação? Pra não ficar chato?!
A questão é que, no mundo offline, os encontros são muito menos frequentes do que a quantidade de vezes em que esbarramos com um post/story/reels completamente indiferente.
Muitas vezes o algoritmo faz, sim, sua mágica de desaparecer com perfis em que a interação é abaixo de zero. Mas em quantas outras não bloqueamos a tela do celular com a sensação de estarmos vendo de tudo, menos o que gostaríamos?
Ao contrário do que aconteceu quando Blake Lively deixou de seguir Joe Alwyn, para nós, meros mortais, às vezes um unfollow é apenas um investimento em qualidade de vida e tempo.
Não é, necessariamente, um rompimento brusco de laços.
Podemos continuar a ser colegas que se veem de vez em nunca sem querer! É só que talvez você não queira me ver na tela do celular enquanto prepara o café da manhã. Nem quando tá enrolando na cama antes de dormir. Nem naqueles 15 minutinhos entre uma reunião e outra. Por mim, tudo bem!
Epílogo:
No último mês, Zendaya distribuiu unfollows em seu perfil no Instagram, unindo-se ao grupo de celebridades que não segue ninguém na rede.
É o caso de Billie Eilish, Eminem, Olivia Rodrigo e da própria Taylor Swift.
Beyoncé e Adele também faziam parte do time, mas abriram exceções, respectivamente, para o marido e a própria central de informações.
Tratando-se de nomes gigantescos como esses, é ilusório pensar que qualquer decisão parta, exclusivamente, de um ponto de vista pessoal — e não de uma estratégia de comunicação milimetricamente planejada.
Ainda assim, é uma forma dessas celebridades (e suas equipes) evitarem especulações sobre as vidas pessoais: quem é amigo de quem? Uma lista consultável virtualmente não vai trazer a resposta.
Para nós — que jamais viraremos um post no reddit por deixar de seguir x, y ou z — não é preciso chegar aos extremos. Basta lembrar que fazer uma boa curadoria do conteúdo consumido é tão importante quanto criar.
OOO 3 CONTEÚDOS PARA PENSAR EM CIBERCULTURA SEM CAIR NA FILOSOFIA HARDCORE
O Essa matéria que reflete sobre a cibercultura de um jeitinho bem despretensioso.
O Esse artigo bem desatualizado para refletir sobre como a internet se transformou de 2018 para cá.
O Esse tiktok just because.
Desde que você recebeu a nossa última newsletter, nós seguimos online. Esses foram os principais posts da OUT OF OFFICE, caso você tenha perdido:
os vários níveis de compreensão em torno de um unfollow e do "não seguir de volta" são uma coisa engraçada pra mim. acho que muito por o instagram ter colocado pessoas que buscam diferentes funções pra uma plataforma digital em um "lugar" só. como se o facebook tivesse encontrado o tumblr (e o pinterest, e o mercado livre, etc.) e decidido que seria melhor juntar tudo. e, nossa, como deu errado. pra cabeça das pessoas, eu digo.
eu uso o instagram pra explorar novas referências; é minha fonte principal de contato com o que tá em alta na cultura popular ocidental, além de ser minha principal mídia de criação de conteudo.
e aí vez ou outra me "cobram" um follow back. sim, aquela pessoa cujo perfil privado interage com meu conteúdo e troca uma ou outra ideias comigo, mas que não parece criar qualquer tipo de conteúdo (ou querer compartilhar em público. logo, o perfil privado) no instagram. mas a falta e a cobrança pelo follow não parece ser pra que eu veja o conteúdo que ela (não) compartilha, e sim como uma forma confirmar que eu gosto dela de volta, ou pra merecer que ela continue me acompanhando ali.
outra coisa curiosa é que essa cobrança de quem interage comigo online vem 100% das vezes de seguidores homens, mesmo que a minha interação seja quase sempre equilibrada (70% da minha audiência é de mulheres, mas em geral tantas mulheres quanto homens conversam e interagem com meu conteúdo).
enfim, questões que não existiam 15 anos atrás.