será que a ordem está no... caos?
No campo da inovação estar totalmente no desconhecido é difícil, mas não seria o previsível maluquice?
"O que vocês acham?" foi uma das frases que mais marcou minha trajetória profissional. Eu tinha 19 anos, tinha acabado de iniciar meu primeiro estágio, e ouvi essa pergunta da Debora, dona e diretora da empresa. Diante de um desafio criativo e logístico envolvendo a vitrine de 100 lojas — e a aprovação de muitos stakeholders — ela sugeriu (não impôs) um caminho (não uma resposta) para a resolução e, ao final, perguntou: "O que vocês acham?"
Se aquela frase tivesse sido um caso isolado, talvez não tivesse me impactado tanto, e eu logo a esqueceria. Mas aquela pergunta refletia o genuíno compromisso da liderança em atuar como facilitadores, abrindo caminhos e permitindo que a equipe escolhesse qual direção seguir. Essa era a filosofia que dominava a empresa-escola onde tive a sorte de passar anos cruciais da minha formação profissional.
Hoje, como co-fundadora da @ooo.agency, gosto de dizer uma coisa que alguns talvez até achem que não deveria ser dita: somos uma agência criada por três pessoas que nunca trabalharam em uma agência. E, por quatro anos, (quatro anos! Às vezes me pergunto, já se passaram 4 anos? Outras vezes penso, só 4 anos?!) criamos sem parâmetro algum de “como deveria ser feito”. E, sinceramente... existe mesmo um “como deveria ser feito” que se aplique a todos?
Já me vi mais de uma vez pedindo desculpas por não ter a resposta pronta para um colaborador ao passo que tentei ajudar a chegarmos nela juntos. E, com a mesma frequência, recebi agradecimentos por isso. Na minha jornada de liderada a líder, de colaboradora a empreendedora, sigo me surpreendendo com o quão fértil é o campo da autonomia e da confiança. E o quanto muitas organizações ainda negligenciam isso. Não acho que seja necessariamente por mal.
Deixar fluir requer muita coragem — mais do que muitos imaginam. Abandonar a noção de controle e deixar fluir é muitas vezes… caótico.
Entendo que a tentação de estabelecer processos rígidos e pseudo-verdades unilaterais, na busca por controle, possa parecer um caminho mais seguro. Mas é seguro mesmo? E, se sim, a que custo?
Isso me fez lembrar de algo que li na newsletter da Gisela’s Hottest Takes (obrigada Maria Prata pela recomendação) recentemente. Ela citava um conto em que um menino, ao ver o mar pela primeira vez, estagnado pela beleza e imensidão, gagueja e pede ao pai: "Me ajuda a olhar?". Achei isso tão bonito. Porque muitas vezes é o olhar do outro que nos permite enxergar o que está diante de nós, mas que sozinhos não conseguimos processar. Assim como o menino precisa do pai para ver a vastidão do mar, nós também precisamos de outras perspectivas para ampliar nossa própria visão. Ainda mais quando estamos falando de criatividade, relevância e ineditismo (um resumo em três palavras do que a gente busca fazer na OUT OF OFFICE).
E já que falei de criatividade, preciso trazer Charles Watson para essa conversa, aquele professor que me fez questionar a lógica de que a genialidade está nas respostas certas. Em seu curso Processos Criativos ele explora a ideia central de que o erro não é só inevitável, ele é fundamental. São os experimentos mal-sucedidos que nos levam aos insights mais potentes. É nesse ciclo de exploração e erro que a inovação floresce: a criatividade nasce do caos, da incerteza, e de um constante estado de tentativa. Parece tão óbvio… mas é tão fácil esquecer.
Por falar em desordem, nos quatro anos desde que fundamos a OUT OF OFFICE, nossa equipe passou de 3 para quase 40 pessoas com inúmeros projetos de diferentes tamanhos. Um crescimento incrível, claro, mas também um (por vezes angustiante) convite à reflexão: como equilibrar essa expansão com a fluidez e a autonomia que sempre acreditamos? Foi então que, no meio dessas reflexões, encontrei o conceito de organizações caórdicas, cunhado por Dee Hock, o fundador da Visa — e ele fez total sentido para mim — foi tipo uma epifania.
Basicamente, a ideia é que o caos e a ordem não são opostos, mas complementares. O que Hock atesta é que, ao contrário do senso comum nos leva a pensar, o caos não é o inimigo da produtividade — ele pode ser, na verdade, o motor da inovação. Em vez de sufocar a criatividade com processos excessivamente rígidos, as organizações caórdicas dão espaço para que as pessoas experimentem, errem e se adaptem, mas sempre dentro de um conjunto de princípios claros.
E aqui acho que está o ponto central: o que são esses princípios? Não se trata de regras fixas e imutáveis, mas de margens que estabelecem os contornos da liberdade criativa. Pense nisso como uma moldura — dentro dela, tudo é permitido; a moldura representa os valores centrais da organização. O que é inegociável na entrega final e no centro da cultura da empresa. O "caórdico" não é sobre ausência de controle, nem sobre deixar as coisas se resolverem sozinhas — é sobre encontrar uma dança entre a estrutura e a liberdade.
Acredito que é isso que transforma a empresa em um organismo vivo, capaz de se mover com agilidade, se ajustar às mudanças e prosperar em um mundo imprevisível. No campo da inovação estar totalmente no desconhecido é difícil, mas não seria o previsível maluquice?
Se você é um empreendedor ou colaborador que se inspirou nesse conceito, mas ainda está na dúvida, eu te entendo — muitas vezes eu também estou. Certeza a gente não tem de quase nada. Mas recentemente fizemos uma pesquisa anônima (valendo falar o que quiser) de cultura interna na OUT OF OFFICE e ler as respostas foi um daqueles momentos que você sente o coração e a mente pulsando em sincronia. Ali cheguei o mais próximo ser possível da "certeza" de que estamos construindo algo ainda mais transformador do que prevíamos.
Em uma das perguntas era pedido que descrevessem a OUT OF OFFICE em uma palavra:
Em outra, que descrevessem qual o sentimento de ser um OUT OF OFFICER:
Há muitas conquistas na OUT OF OFFICE que me deixam orgulhosa, mas nada se compara a ler essas palavras vindas de quem vieram.
Porque claro, de nada adiantaria acreditar em tudo isso se eu não estivesse cercada por pessoas que compartilham essa visão. Que florescem na ordem do caos e que "me ajudam a ver o mar". É a soma de olhares afiados, de mentes inquietas e alinhadas, que torna possível não só navegar nesse caos, mas transformá-lo em algo novo e inspirador. As pessoas que temos hoje na OUT OF OFFICE não são apenas parte da equipe — são a própria moldura que mantém a liberdade criativa pulsando e em constante evolução.
A ideia nem era transformar essa newsletter numa carta aberta à equipe, mas, assim como no caos criativo, deixei as coisas fluírem — e cá estamos. E pra terminar como comecei… O que vocês acham?
Desde que você recebeu a nossa última newsletter, nós seguimos online. Esses foram os principais posts da OUT OF OFFICE, caso você tenha perdido:
Que texto lindo ♥️
Que texto maravilhoso, parabéns!! Me identifiquei muito!