talvez o mundo esteja realmente pegando fogo enquanto rolamos nossa for you
Por que sustentabilidade é um tópico complexo para marcas abordarem?
Janeiro de 2024. O calor extremo que tomou conta do Brasil, se tornou uma verdadeira "pauta quente" nas redes pela primeira vez. Daqueles assuntos de tomar conta de qualquer feed ou conversas de bar. Muitas pessoas reclamando, alguns preocupados e outros pensando que era só um verão "atípico".
Março de 2024. O calor aliviou e nossos feeds voltaram a ser sobre as grandes tendências das fashion weeks, cachorros robôs e secadores de cabelo super tecnológicos.
Apesar de ainda ser debatido de forma tímida e fugaz, a sustentabilidade deveria ser a grande temática em todas as frentes.
A instabilidade política e as guerras que eclodem incessantemente em um contexto de permacrise podem suplantar as discussões em torno de um futuro comum possível. Por mais que seja relevante abordar os conflitos em andamento, não discutimos com profundidade sobre o amanhã e os impactos da crise climática. É evidente que nossas conversas, desde as mais complexas às mais simples se tornam mais rasas e breves quando vivemos em uma modernidade líquida, conforme Zygmunt Bauman conceituou ainda em 2001; entretanto, viemos observando cada vez mais a aparição de novos termos como a "apatia climática", sendo essa uma das formas psíquicas de lidar com as catástrofes ambientais que dão sinais de adoecimento do mundo.
Tudo isso acaba desencadeando em uma crise de linguagem em torno desse tema, conforme menciona a escritora Giovana Madalosso, no podcast "O tempo virou" de Giovanna Nader, provocando uma reflexão de como podemos transpassar diferentes narrativas sobre um assunto que por vezes pode ser tão duro e indigesto.
É inegável que houve uma crescente de marcas abordando as temáticas sustentáveis nos últimos anos, e mais do que isso, observamos também algumas práticas importantes, com produtos e coleções de baixo impacto - também muito impulsionados pela pressão dos consumidores e liderados pela Geração Z. A grande questão é a intencionalidade por trás de tudo isso.
Uma vez que esse é um assunto que está "na moda", será que vale tudo para fazer parte dessa conversa?
Essa pergunta nos faz refletir ainda mais depois de vermos a campanha da Skims, marca da Kim Kardashian, que utiliza da temática do aquecimento global e derretimento das calotas polares para relacionar à narrativa sexualizada do novo sutiã, que apesar de doar parte das vendas desse lançamento à 1% for the planet, possui os principais poluentes da indústria da moda em sua composição.
Essas e outras contradições são recorrentes quando tratamos de um assunto tão complexo e com números tão assustadores para o nosso futuro.
Assim como qualquer movimento, existe uma contracorrente que pode nos estagnar se não estivermos atentos. Ao passo que percebemos um aumento de cobrança por iniciativas sustentáveis, vinda de uma parcela da sociedade preocupada com o futuro, observamos um contrafluxo com números de fast fashion cada vez mais exorbitantes, como o próprio fenômeno da Shein, que cresce exponencialmente, gerando uma grande contradição de comportamentos.
Afinal de contas, o que se encontra nesse abismo entre se colocar, diante de uma pesquisa, como um ser humano preocupado com o meio ambiente mas cair na tentação do último "core" do TikTok e aderir a trend na fast fashion mais barata que encontrar?
De acordo com um estudo divulgado pela Hypebeast no ano passado, há também uma questão financeira a ser considerada, na qual 53% dos respondentes, entre Gen Z e Millennials, disseram que seriam mais engajados na causa se os produtos sustentáveis fossem mais acessíveis financeiramente.
Então, percebemos que para além de uma crise de linguagem, há uma certa incoerência de fatos, provocadas por questões socioeconômicas ao redor do mundo, tornando assim a crise climática um problema muito mais complexo de ser resolvido, visto a interdependência com outros âmbitos, para além do ambiental. Dentro disso, sabemos que para que haja um despertar coletivo sobre o assunto, é necessário que essa pauta seja abordada também pelas marcas, sejam elas grandes ou pequenas, de forma comprometida e recorrente, mas principalmente, de forma verdadeira.
A pauta é complexa e delicada, mas será que existe a "forma perfeita" de abordá-la? Afinal de contas, devemos concordar que é praticamente impossível darmos check em todas as caixinhas que estão relacionadas. Aqui, assim como qualquer outro assunto, primeiro é preciso entender quais conversas a comunidade da sua marca já faz parte e quais delas podem ser relacionadas ao tema.
Nem todas as legendas precisam abordar grandes tragédias ambientais de forma ativista, uma vez que a marca atua de forma ativa - podendo ser até mesmo mesmo de forma silenciosa, num primeiro momento. A credibilidade em torno desse assunto, se dá através do famoso "boca a boca" aka "viral", quando a própria comunidade identifica esse movimento e passa a falar naturalmente.
Da mesma forma que a autenticidade é a palavra do ano para o marketing de influência, marcas autênticas e verdadeiras, além de terem mais facilidade para abordar assuntos mais complexos, ganham confiança através da transparência de suas ações.
Talvez essa newsletter tenha trazido mais dúvidas do que certezas, mas o fato é que, se o mundo está realmente queimando enquanto rolamos a nossa for you, essa precisa ser uma pauta fixa para além da reunião de conteúdo.
OOO 3 BONS EXEMPLOS DE COMO AS MARCAS ESTÃO GENUINAMENTE FALANDO DE SUSTENTABILIDADE
O Essa coleção da Rider que amplifica a mensagem de sustentabilidade da marca, reafirmando o propósito de "Recriar futuros, juntos".
O Esse projeto da FARM que busca o reflorestamento de 1.000 árvores por dia, todos os dias.
O Essa tagline da Reformation que reforça a sua missão sustentável: "Being naked is the #1 most sustainable option. We’re #2."
Desde que você recebeu a nossa última newsletter, nós seguimos online. Esses foram os principais posts da OUT OF OFFICE, caso você tenha perdido:
Que matéria interessante! Ontem estava pensando o quão assustada eu estava com o calor que está fazendo em São Paulo. Não é normal, e parece que preferimos abafar isso do que enfrentar uma realidade: sim, estamos acabando com o nosso planeta. E sim, a indústria da moda tem responsabilidade nisso. Quando estava pensando sobre a questão de fast fashion e moda acessível, vocês trouxeram o ponto socioeconômico de forma bem pontuada! Aí fica o questionamento pra minha semana, após leitura: como as marcas podem ajudar na questão sustentável e trazerem mais acessibilidade?